Propostas-Económicas-Haddad-Bolsonaro

Haddad representa uma aposta para deixar o modelo de crescimento moderado dos governos do PT e o modelo liberal de Estado mínimo a que Temer e Bolsonaro aspiram

De acordo com uma análise comparativa dos programas de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, realizada pelo CELAG utilizando um modelo de estimativa macroeconômica Estoque Fluxo de Contabilidade Consistente, as principais variáveis -crescimento, investimento, balanço externo- terão melhor desempenho se forem aplicadas as propostas econômicas de Fernando Haddad.

A economia é a questão que mais afeta a vida das famílias, no entanto, é a questão que menos eleitores entendem e a questão para menos tempo de dedicação dos candidatos. Poucos dias antes das eleições presidenciais no Brasil em 28 de outubro, o conhecimento sobre as conseqüências econômicas da votação para Fernando Haddad do PT ou Jair Bolsonaro do PSL é fundamental.

Indicadores macroeconômicos como crescimento e nível salarial, consumo familiar, participação do trabalho na renda nacional, déficit externo, dívida externa, investimento nacional e investimento público em infra-estrutura, entre outros, experimentariam um melhor desempenho com as propostas econômicas de Haddad. Esta é a principal conclusão de uma análise comparativa realizada pela Unidade de Debates Econômicos (UDE) do Centro Estratégico Geopolítico Latino-americano (CELAG) sob a direção do pesquisador Dr. Guillermo Oglietti, vice-diretor executivo da CELAG, que contou com a participação de as economistas Lucía Converti e Sergio Martin Carrillo. O relatório pode ser consultado na íntegra no site do CELAG (www.celag.org).

O objetivo do estudo é informar os brasileiros sobre as consequências econômicas das duas opções eleitorais atuais, utilizando um Modelo de Fluxo de Estoque de Contabilidade Consistente que permita fazer previsões econômicas. De acordo com Oglietti, PhD em Economia Aplicada da Universidade Autônoma de Barcelona, esses modelos são os mais eficazes em prever inconsistências econômicas e mostraram grande poder de previsão ao visualizar as inconsistências que levaram à crise de 2008. O pesquisador do CELAG lembra que os modelos preditores tradicionais foram incapazes de prever essa crise, demonstrando a incapacidade dos modelos que as instituições financeiras internacionais costumam usar para explicar a realidade e prevê-la.

O estudo sintetiza as principais propostas econômicas de ambos os candidatos concorrentes à Presidência, que são então integrados em um modelo que analisa as interações entre todos os setores da economia para projetar os impactos esperados. Foram obtidas projeções em 5 áreas principais, 1) o produto interno bruto, 2) o setor externo, incluindo saldo de bens e serviços e saldo de receitas de investimento, 3) finanças públicas, 4) remuneração por trabalho e consumo familiar e, 5) investimento público privado e formação de capital produtivo. As projeções se estendem até o ano de 2050.

As projeções dos resultados mostram que:

  • Em 4 anos de governo, o PIB do Brasil aumentaria em 10,6% com Bolsonaro, comparado a 18% com Haddad
  • Caso o programa Bolsonaro fosse aplicado até 2050, o PIB brasileiro seria multiplicado por 227%, comparado a 300% se as políticas de Haddad fossem aplicadas.
  • O modelo de Haddad significa que o Brasil cresceria, em três décadas, quase um PIB a mais do que com Bolsonaro.
  • A carga fiscal em termos de PIB seria praticamente a mesma com os dois candidatos, embora o déficit fiscal fosse menor com Bolsonaro.
  • No entanto, a arrecadação e o investimento públicos seriam maiores com Haddad como consequência do maior crescimento da economia.
  • A despesa pública com Haddad chegará a 18% do PIB em comparação com os 19% que serão alcançados com Bolsonaro.
  • A diferença entre um programa e outro também é evidente em termos da participação dos salários no rendimento total do agregado familiar. Como o relatório argumenta, existem dois modelos salariais, um que defende uma reforma flexibilizadora do mercado de trabalho e outro que visa defender a renda salarial contra a inflação. A participação dos trabalhadores na renda nacional privada aumentaria em 2022, de 38% para 35% com Bolsonaro, enquanto aumentaria para 39% com Haddad.
  • A proposta de Haddad representa uma mudança substancial em relação ao modelo Temer e, também, contra seus dois antecessores no PT, Lula e Dilma, porque a proposta poderia corrigir a valorização cambial que afeta a competitividade da economia e desestimula a proposta. investimento produtivo. Assim, o modelo de Haddad é um modelo que aposta por um crescimento que não só terá o impulso do mercado interno como durante os governos de Lula e Dilma, mas será apoiado na expansão produtiva para o exterior. Em particular, com o apoio de uma estratégia de integração sul-sul.
  • O mercado interno tem um papel de liderança com o governo de Haddad, com um crescimento no consumo de 19% em comparação com o aumento de 11% com as propostas de Bolsonaro apenas em 4 anos de gestão.
  • Com o modelo Haddad, o investimento é o centro das atenções. Até o final de 2022, com as políticas de Bolsonaro, o investimento cairia acentuadamente, especialmente devido à diminuição do investimento público em infra-estrutura. O nível de investimento aumentaria moderadamente sob o modelo Haddad.
  • O estoque de capital, que define as possibilidades produtivas dos brasileiros, aumentaria, até 2022, 6,7% e 19,8%, aplicando as políticas de Bolsonaro e Haddad, respectivamente. Em 2050, com as políticas de Haddad, o estoque de capital poderia crescer 335%, enquanto o modelo de Bolsonaro alcançaria apenas a metade desse avanço.
  • Na frente externa, o modelo de abertura comercial e financeira de Bolsonaro irá gerar um canal através do qual a liquidação da privatização seria liquefeita através de especulação cambial, por isso existem grandes diferenças entre Haddad e Bolsonaro em termos do equilíbrio de contas externas.

Para os pesquisadores, os resultados indicam que o modelo Bolsonaro desperdiçará recursos das privatizações nas saídas de capital. Continuando com o modelo de desmantelamento da flexibilização estadual e trabalhista que Temer lançou, avançaremos por uma trajetória que deteriorará ainda mais o consumo, o que faz prever que o setor produtivo não terá impulso de consumo nem de impulso da demanda externa.

De acordo com o trabalho, o modelo Haddad representa mudanças significativas em relação à linha Bolsonaro-Temer e, especialmente, em relação aos seus antecessores do PT, no sentido de que a orientação será aprofundar o processo de industrialização e desenvolvimento. Haddad representa uma aposta para deixar o modelo de crescimento moderado dos governos do PT e o modelo liberal de Estado mínimo a que Temer e Bolsonaro aspiram.

Os autores dizem que essa eleição é possivelmente a mais polarizada na história do Brasil. «Os cidadãos escolherão entre um perigoso movimento de direita contra os direitos que ameaça desestabilizar ainda mais a coesão racial, a unidade regional e a estabilidade institucional no país, e uma esquerda moderna que modestamente promete restabelecer a institucionalidade. Não é percebido, no entanto, que a polarização é ainda mais pronunciada em questões econômicas. Ao optar por Bolsonaro, as maiorias brasileiras não sabem o que acontecerá com a Ordem, mas certamente sabemos que não haverá progresso. «

 

Veja a investigaçao completa aqui

 

Guillermo Oglietti

Dr. en Economía Aplicada (UAB). Sub Director de CELAG (Argentina)

Guillermo Oglietti es doctor en Economía Aplicada por la Universidad Autónoma de Barcelona (UAB), postgraduado del Instituto Torcuato Di Tella de Buenos Aires y licenciado en Economía por la Universidad Nacional de Río Cuarto (UNRC, Argentina). Dirigió el Centro Interdisciplinario de Estudios sobre Territorio, Economía y Sociedad de la Sede…

Lucía Converti

Licenciada en Economía (UBA) (Argentina)

Licenciada en Economía, Universidad de Buenos Aires. Ha trabajado como jefa de gabinete de presidencia del Banco BICE (2014-2015); y Dirección de Proyectos Especiales dela Autoridad Federal de Servicios de Comunicación Audiovisuales (AFSCA) (2013).